27 de Abril de 2016
Mercado

Os 10 maiores escândalos da indústria automobilística

por Eduardo Ruano

Algumas dessas fraudes são difíceis de acreditar que realmente aconteceram. Outras são impossíveis. Veja:

1. Ford Explorer x Firestone

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Lançado em 1991, o Ford Explorer pode ser considerada o criador do vigoroso mercado dos modernos SUVs no mundo. Ele rapidamente se transformou num mega sucesso financeiro para a Ford, e num dos SUVs mais populares do mundo. Mas, em maio de 2000, uma série de acidentes começaram a acontecer, fazendo o Explorer capotar, e resultando em vítimas fatais. O jogo do "empurra a culpa" começou imediatamente.

A Ford acusou a Firestone de fornecer pneus que estouravam, pois suas camadas de borracha descolavam. Já a Firestone dizia que o Explorer possuía centro de gravidade muito alto e problemas de suspensão, desbalanceando o carro nas curvas. Milhões de pneus foram substituídos gratuitamente, multas e processos milionários foram aplicados, mas nada trouxe de volta as mais de 100 vidas perdidas e centenas de feridos com seriedade.

Menos importante, mas muito significativo e simbólico, foi o fim da parceria de mais de 95 anos entre a Ford e Bridgestone/Firestone. Pouco tempo depois do anúncio do rompimento definitivo, feito por John Lampe, presidente da Bridgestone/Firestone e Jack Nasser, presidente da Ford, as duas empresas voltaram a trabalhar juntas.

2. DeLorean DMC-12: cocaína e carros

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John Zachary DeLorean é o que se pode chamar de "gênio automobilístico". Bem, pelo menos até a metade de sua carreira. Na sequência, ele foi promovido para o nível de "gênio automobilístico do mal". Em 1963, já como alto executivo da GM, ele desenhou os icônicos Pontiac GTO e Pontiac Firebird.

Em 1973, John sai da GM e cria sua empresa para lançar o DeLorean DMC-12. O carro possuía um belíssimo desenho, mas um horrível desempenho, graças ao seu patético motor V6 de 130 cavalos. Tudo deu errado nessa empreitada. O primeiro DMC-12 foi produzido em 1981, quase 10 anos após o início do projeto. No final de 1982, apenas 9.000 carros tinham sido produzidos, e mais da metade não conseguiam ser vendidos.

O que fazer para resolver esse problema? Levantar dinheiro através do tráfico internacional de drogas. Em 19 de outubro de 1982, John DeLorean foi pego pelo FBI vendendo 27 quilos de cocaína, parte de um lote de 100 quilos, valendo U$24 milhões que seriam usados para evitar a queda de sua fábrica. Em 1984, os advogados conseguiram livrar a cara de DeLorean. Perguntado se voltaria ao mundo dos automóveis, ele respondeu: "Você compraria um carro usado de mim?". A atitude mais sensata que DeLorean teve desde 1973.

3. Ford Pinto

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Esse carro já começa errado pelo nome. E continua mais errado com sua macabra história. Lançado em 1971, inicialmente foi um grande sucesso, até as autoridades descobrirem que ele tinha um problema fatal, já conhecido pela Ford. Ao receber um impacto traseiro, o tanque de gasolina podia se romper, criando um vazamento dentro da cabine dos passageiros e gerar um incêndio.

Em 1977, a revista Mother Jones tornou público um terrível memorando interno da Ford, feito em 1973, demonstrando matematicamente que era mais barato deixar as pessoas morrerem queimadas do que consertar o carro.

Em 1977, a poderosa NHTSA, agência do governo americano responsável pela segurança automotiva, determinou que o sistema de gasolina do Ford Pinto era defeituoso, causando acidentes com mortes. A Ford fez o maior recall da época de 1,5 milhões de carros, e pagou centenas de milhões de dólares em multas e processos judiciais. Estima-se que 500 pessoas morreram por causa desses acidentes.

4. Sistema de ignição GM

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O Chevrolet Cobalt americano (nada a ver com o carro brasileiro) entrará para a história como um produto dos mais perigosos e irresponsáveis da indústria automobilística. Não por causa do recall de 98.000 carros em 2007, por estar abaixo dos padrões de segurança federais. Nem pelo recall de 1,3 milhões de carros, por um problema de direção.

O Cobalt americano entra para o hall da infâmia, por um problema no seu sistema de ignição que desligava o carro em movimento, tornando inoperantes vários sistemas hidráulicos, como a direção e freios, sistemas de segurança como airbags, e sistema ABS de frenagem.

Seguindo o padrão habitual de mentiras e encobrimento dos participantes dessa lista, a GM sabia desse defeito desde 2004, mas concluiu que seria muito caro consertá-lo. Após nove amos e 124 mortes, a GM fez um mega recall de 30 milhões de carros no mundo todo, pagou U$900 milhões de multas ao governo americano e U$575 milhões para as famílias das vítimas.

5. Toyota: aceleração não intencional e mentira intencional

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Em 2009, as autoridades americanas levaram a público a ligação telefônica de emergência do policial rodoviário Mark Saylor, quem pedia socorro, pois seu Toyota Camry estava acelerando descontroladamente. O carro atingiu 160 km/h, bateu e todos seus quatro ocupantes morreram. Como qualquer mega empresa que se preze, a Toyota colocou a culpa em seus clientes, não nos seus produtos, chegando ao ridículo de dizer que os motoristas estavam posicionando os tapetes do carro de forma errada, acionando o acelerador.

Em 2014, após centenas de incidentes de aceleração não intencional e sempre negando responsabilidade, a Toyota decidiu pagar a módica quantia de U$1,2 bilhões ao governo americano para evitar ser processada, a maior penalidade criminal aplicada até então para uma empresa de carros. Na oportunidade, a Toyota finalmente admitiu que escondeu documentos do público e das autoridades, que mostravam em detalhes o defeito de construção no pedal do acelerador. Foi feito um recall de 9,3 milhões de carros da Toyota e Lexus.

6. Takata: alguns problemas

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A empresa japonesa Takata pode ser considerada como a empresa dos "alguns". Em 2004, ela descobriu que seus airbags eram uma porcaria. O pessoal da Takata decidiu dar algum tempo (nove anos) para avisar seus consumidores, que por algum tempo (de 2000 a 2008) forneceu alguns airbags (cerca de 30 milhões) para algumas montadoras (10) com alguns defeitos. Que defeitos?

O airbag pode ser acionado no momento errado e, junto com ele, uma chuva de detritos de plástico e pedaços de metal atingir seu rosto e tronco. Este é considerado um dos recalls mais abrangentes, caros e complexos da história automotiva.

Tem mais alguns problemas. Em 1995, o governo americano obrigou o recall de milhões de carros vendidos entre 1986 e 1991, pois seus cintos de segurança falharam em testes de travamento. Quem era o fabricante desses cintos? Sim, a Takata.

7. Daimler: mercado livre e competição é para os trouxas

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Em 2010, a Daimler (dona da Mercedes-Benz) pagou uma multa de U$185 milhões ao governo americano, ao admitir acusações de corrupção e pagamento de propinas, entre 1998 e 2008, para ganhar contratos com governos de 22 países, que geraram lucros totais de U$91,4 milhões.

Robert Khuzami, diretor da SEC (agência que regula o mercado financeiro americano) declarou que: "Não é exagero descrever o esquema de corrupção e pagamento de propinas da Daimler, como prática normal de negócios". E por que os Estados Unidos se envolveram nessa história? Porque a Daimler usou o sistema financeiro americano para fazer os pagamentos ilegais. Exatamente o mesmo motivo que fez o FBI prender José Maria Marin, ex-governador de São Paulo e ex-cartola da CBF, preso na Suíça e deportado para os Estados Unidos por corrupção.

8. Audi 5000

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A Audi sempre foi e continua sendo sinônimo de qualidade, segurança e tecnologia de ponta. Então, o que ela está fazendo nessa lista? Lançado em 1982, o Audi 5000 era o equivalente ao Audi A6 de hoje, um sedan de alto luxo e alta performance.

O carro foi um sucesso no mercado americano, até que em 23 de novembro de 1986, o influente programa de televisão americano 60 Minutes levou ao ar uma matéria dizendo que o Audi 5000 sofria de aceleração não intencional. Para provar a acusação, exibiram um 5000 andando sozinho. O que não mostraram foi a modificação que fizeram no carro para simular as alegações de alguns proprietários.

Não havia nada de errado com o Audi 5000. Testes independentes realizados nos Estados Unidos, Canadá e Japão confirmaram o que a Audi fazia: o carro não tinha problemas. Mas o estrago estava feito. Em 1991, a empresa alemã vendeu 12.000 carros nos Estados Unidos, contra 75.000 em 1985. Demorariam 20 anos para que voltassem a alcançar os números de 1985.

9. Motor Chevrolet: suporte que não suporta

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Em 1969, a NHTSA recebeu um relatório sobre suportes defeituosos de motores da Chevrolet, que saiam do lugar, ou quebravam, fazendo o motor se deslocar e criar uma aceleração descontrolada ao tensionar o cabo do acelerador. Ao encaminhar o problema para a Chevrolet, a NHTSA recebeu uma resposta em que a montadora dizia ter identificado 172 casos de falha de suporte, causando 63 acidentes com 18 feridos. O que a NHTSA e a Chevrolet fizeram nos três anos seguintes? Nada.

A Chevrolet admitiu que usava esses suportes desde 1958. Em dezembro de 1971, foi feito um recall gigante de 6,5 milhões de carros para consertar esse problema.

10. Volkswagen: poluição

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Em 2009, a VW anunciou orgulhosamente ao mundo que havia desenvolvido um novo motor diesel "amigo do ambiente". Uma maravilha da engenharia com alta potência, baixo consumo e baixas emissões. Tremenda mentira. O pessoal da VW percebeu que o investimento de anos e anos no desenvolvimento desse motor tinha ido para o lixo.

Se quisessem manter a alta potência e o baixo consumo, o motor iria produzir 40 vezes mais óxido de nitrogênio do que a lei americana permitia. Qual a solução? Mentir e enganar clientes e autoridades. Nos próximos seis anos, foram produzidos 11 milhões de carros com um chip que enganava os aparelhos de medição de emissões.

Em 2015, a VW foi pega. Mas, como sempre, a coisa é pior do que parece. A fraude também envolveu carros da Audi e Porsche para quem a VW forneceu esses motores diesel micados. Entre recompra de carros e multas, a estimativa é que a VW vai pagar cerca de U$7 bilhões apenas nos Estados Unidos, e que o total deve chegar na cada dos U$18 bilhões.

*Via